Hoje sabemos, e foi amplamente estudado, que o desenvolvimento do nosso cérebro só termina por completo por volta dos 22/25 anos. A área do córtex pré-frontal envolvida com o processo de empatia (córtex somatossensorial direito) é a última a amadurecer no nosso cérebro. Mas, por que saber disso é importante quando falamos de adolescentes?
Vamos levantar os seguintes pontos: adolescentes tem instabilidade no sistema de recompensa do cérebro, é como se ele fosse “descalibrado”, portanto, eles estão mais propensos a terem comportamentos de risco e mais propensos a aberturas de algum quadro psiquiátrico. Além disso, os adolescentes têm maior propensão a emitirem comportamentos pouco empáticos. Eles têm muita dificuldade em se colocar no lugar do outro. A perspectiva da outra pessoa é confusa para eles. Vamos entender: Imagine que o processo de empatia tem 2 vertentes: a vertente cognitiva (eu intelectualmente me dou conta do que está acontecendo com o outro, sem ter necessariamente uma ligação com o outro (Ex: guerras em outro país), e a vertente emocional (eu empatizo a partir de algo que me mobiliza – bonding – Ex: sorriso de uma criança, ligação mãe x bebê – contágio emocional). Agora entenda que essa complexa atividade está numa área do cérebro que, no adolescente, não está madura. Eles neurologicamente têm dificuldade de se colocar no lugar do outro (por isso alguns pais têm a nítida sensação de que seus filhos pouco se importam com os problemas levantados por eles, ou não são capazes de entender a importância de algumas coisas iguais a eles).
Somando-se um sistema de recompensa descalibrado a uma dificuldade neurobiológica de ter comportamentos empáticos podemos ter em alguns adolescentes (dependendo do ambiente e história pregressa) um perfil de risco para uma série de problemas de saúde emocional.
Nesta etapa do neurodesenvolvimento o adolescente é muito mais sensível a recompensas altas e entendem como frustrantes e até punitivas recompensas baixas. Nós adultos, ao realizarmos algo e recebermos uma recompensa baixa, ligamos nosso centro de recompensa e somos capazes de entender e argumentar sobre a baixa recompensa, mesmo que nos sintamos desvalorizados. Nós temos facilidade em adequar valor x esforço. Nos adolescentes, a mesma recompensa oriunda da mesma atividade, se interpretada como baixa, INIBE o sistema de recompensa! Além de não ativar, ela inibe o sistema, gerando neurobiologicamente um sinal de frustração. No sistema deles isso é quase igual uma punição. O adolescente não consegue interpretar recompensas baixas e as entende como desprezíveis. Isso é preocupante, pois, é exatamente isso que leva o adolescente a buscar recompensa altas e rápidas. Ele direciona seu repertório comportamental para buscar essas recompensas altas. Isso predispõe o adolescente a vícios, muito mais do que nós adultos. Inclusive porque o cérebro do adolescente ainda é ávido por novidades. Um cérebro em busca de novidades altamente recompensadoras, onde, dependendo do ambiente, isso pode ser ótimo ou péssimo.
A área do cérebro que faz a análise do “tamanho” da recompensa e se ela é valiosa ou não é o córtex pré-frontal (que neles não está nada madura), isso nos mostra ainda mais o porquê da fraca noção deles de esforço x recompensa.
Além disso, diversos estudos mostram que os adolescentes têm dificuldade em atualizar seus julgamentos frente a novos dados (chamado miopia racional). Eles não conseguem ponderar bem sobre novos dados (Ex: Perguntado a um adolescente a chance de ele sofrer um acidente dirigindo bêbado, ele responde zero. Você então mostra o dado estatístico que a chance de um acidente por embriaguez é de 20%. Novamente é perguntado a ele a chance de ele bater o carro bêbado. Ele responde “zero, pois, sou que estou dirigindo e eu sei o que estou fazendo” – ele não atualiza o julgamento mesmo dada a evidência).
Entender, mesmo que superficialmente, o sistema de recompensa deles poderá nos ajudar a ensiná-los a contra-argumentar com as sensações que eles têm ao invés de ficarem tão perdidos na própria ansiedade e frustração.
Saber de tudo isso pode nos ajudar a compreender essa fase deles sem que nós adultos nos frustremos também, porque, literalmente, um adolescente não dará o mesmo valor aos seus problemas, não fará tarefas se não tiver uma nítida e rápida compreensão da recompensa envolvida na atividade e se essa atividade não lhe der uma alta dose de dopamina. Entendam, o intuito não é “mimar” o adolescente dando a ele recompensas altas e rápidas; é exatamente o contrário, é ensiná-lo a adquirir comportamentos altamente reforçadores, mas fora da zona de risco. É moldar o ambiente dele para recompensas saudáveis e passar por essa fase do “8 ou 80” de forma mais funcional e menos nociva. Ajude o adolescente a encontrar atividades e mostre o valor da recompensa que elas têm.